quarta-feira, 14 de março de 2012

ESPIRITISMO E ESPERANTO


por Fábio Fortes

“Fui criado como um idealista e ensinaram-me que todas as pessoas eram irmãs, enquanto lá fora na rua, a cada passo eu sentia que não havia pessoas, apenas os russos, poloneses, alemães, judeus e assim por diante. Este sempre foi um grande tormento na minha mente infantil, embora muitas pessoas possam zombar de tal “angústia pelo mundo” em uma mente infantil”
(Zamenhof, 1895)

Em um mundo em que as fronteiras linguísticas, em vez de tornar símbolo da riqueza cultural do mundo, se tornam barreiras políticas que redundam em guerras e dominações, parece não haver espaço para o idealismo dos “puros de coração” que se angustiam pelos males do mundo e anseiam pela renovação do planeta. Não é, porém, o que a história provou: no mesmo século que as luzes da Codificação Espírita tocavam o coração de Kardec, em meados do século XIX, em algum lugar na Europa, onde judeus, alemães, russos e poloneses se hostilizavam, nascia Lázaro Ludvig Zamenhof, que não conheceria Kardec ou a Doutrina Espírita, mas construiria um dos maiores legados a favor da divulgação do Espiritismo no Mundo: o Esperanto.


Parte I – O Esperanto no Mundo


O Esperanto é uma língua criada em 1887 pelo médico polonês Lazaro L. Zamenhof. Ele propôs o Esperanto como uma segunda língua auxiliar que permitiria aos povos preservar suas línguas nativas, mantendo suas identidades culturais, ao mesmo tempo em que poderiam comunicar entre si por intermédio de uma segunda língua neutra, de fácil aprendizado. Isso significa que o Esperanto, como língua neutra internacional, não oferece qualquer tipo de favorecimento político ou cultural, pois é um bem cultural disponível a usuários de qualquer nacionalidade, sem pertencer a nenhum povo específico.
Dentre inúmeros projetos de língua internacional, pode-se dizer que o Esperanto é o único que realmente se tornou uma língua viva. Hoje, mais de 100 anos após a sua criação, o Esperanto é falado por uma comunidade de falantes de muitos países do mundo, que o usam em comunicações internacionais, em congressos, em interações pela internet, em viagens pelo mundo etc. Embora se possa alegar que outras línguas naturais sejam igualmente empregadas com certo grau de internacionalidade – como o inglês atualmente –, função que outrora desempenharam, em diferentes épocas, também o francês, o latim ou o grego, nenhuma delas, de fato, alcançou a neutralidade política e linguística, que lhes poderia facultar a criação de uma cultura verdadeiramente internacional. Ao contrário, o Esperanto, não somente se tornou um veículo eficaz de comunicação internacional, como também, ao longo do último século, produziu uma cultura igualmente transnacional, que tem como características a defesa da diversidade cultural e linguística humana. Não sendo uma língua “nacional”, não colocou em perigo as línguas minoritárias –, a cultura da confraternização e da paz entre os povos, a neutralidade e liberdade política, religiosa e cultural, respeitando as diferenças entre as culturas.
Mas o Esperanto funciona mesmo? Não é uma língua morta? Sim! O Esperanto tem um imenso acervo cultural que faz com que seus falantes pertençam a essa comunidade transnacional do Esperanto, e consigam se comunicar sobre todos os assuntos. A literatura em esperanto, traduzida ou original também é muito vasta. A prova de que o esperanto funciona, pode ser vista pela internet. Se você digitar “esperanto” no Google você será conduzido a não menos que 162.000.000 resultados. Na famosa Wikipedia, enciclopédia virtual que reúne artigos em 260 línguas, a sua versão em Esperanto está entre as 20 primeiras em volume de textos disponíveis. Entre as mais de 7000 línguas do mundo, o Esperanto está, em número de falantes, entre as 200 línguas mais faladas, superando muitas línguas nacionais.
Mas sendo uma língua neutra, porque os espíritas estudam o Esperanto?
(Continua...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário