sábado, 17 de março de 2012

ESPIRITISMO E ESPERANTO - Parte II

Por Fábio Fortes


Estamos ainda muito longe das regiões ideais da mente pura. Tal como na Terra, os que se afinam perfeitamente entre si podem permutar pensamentos, sem as barreiras idiomáticas; mas de modo geral, não podemos prescindir da forma, no lato sentido da expressão. (...) Os patrimônios nacionais e lingüísticos remanescem ainda aqui, condicionados a fronteiras psíquicas.
(André Luiz/Francisco C. Xavier. Nosso Lar, 24)

Entre espíritos perfeitamente afinizados, as barreiras linguísticas se superam pela linguagem do pensamento, mas, no mais das vezes, entre espíritos que requerem o esforço das relações ainda nem tão afinizadas, as línguas, os costumes, as culturas, representam barreiras que se interpõem ao progresso comum. Assim também ocorre na Espiritualidade próxima à Terra: quantos socorros e auxílios seriam mais eficazes se intermediados pela clareza da compreensão humana?


Parte II – Esperanto e Doutrina Espírita

A relação entre a Doutrina Espírita e o Esperanto começou em 1909, quando o então presidente da Federação Espírita Brasileira, aceitando recomendação do movimento espírita francês, resolveu apoiar a causa esperantista. Em meados dos anos 30, Guillon Ribeiro, espírita e esperantista, tradutor das obras de Kardec, iniciou um processo de propaganda e divulgação editorial do Esperanto, abrindo espaço para que dicionários, gramáticas e obras didáticas do Esperanto fossem publicadas pelo signo da FEB. Também as obras da codificação foram traduzidas para o Esperanto, atividade lealmente apoiada até os dias de hoje. Em 1940, pela psicografia de Chico Xavier, Emmanuel enviou a mensagem “A missão do Esperanto”, longa página que destaca o valor do movimento esperantista para a pacificação universal:
“Também o Esperanto, amigos, não vem destruir as línguas utilizadas no mundo, para o intercâmbio dos pensamentos. Sua missão é superior, é a da união e da fraternidade, rumo à unidade universalista. Seus princípios são os da concórdia e seus apóstolos são igualmente companheiros de quantos se sacrificaram pelo ideal divino da solidariedade humana”.
Em 1959, centenário de nascimento de Zamenhof, o Espírito Francisco Lorenz – que, quando encarnado, havia sido um dos esperantistas de primeira hora, tendo publicado obras de ensino de Esperanto ainda para falantes da Tchecoslováquia, região de onde emigrara, tempos depois, para se estabelecer, enfim, no Brasil, onde também atuou incessantemente em prol do Espiritismo e do Esperanto – publicou a obra bilíngue “Esperanto como Revelação”, psicografada nas duas línguas por Chico Xavier. Nesta obra, destaca-se o papel de Zamenhof como missionário do bem, em prol de um ideal de fraternidade entre os povos, em busca da clareza da comunicação humana, a favor da criação de uma cultura verdadeiramente internacional, neutra e que tivesse como princípio o respeito à diversidade humana e a paz. Assim afirmou Lorenz, pela mediunidade de Chico:
“Cercando-se de assessores eficientes, o construtor da unificação iniciou dilatados estudos e, conjugando as mais conhecidas raízes idiomáticas de vários povos, concretizou, em quase meio século de trabalho, a sublime realização. Auxiliado pelas numerosas equipes de colaboradores que lhe afinavam com o ideal, o gênio da confraternização humana, que conhecemos por Lázaro Zamenhof, engenhara, com a inspiração divina, o prodígio do Esperanto, estabelecendo-se a instituição de academias respectivas, nos planos espirituais conexos às nações mais cultas do Planeta. Corporifica-se Zamenhof, em 1859, num lar da Polônia, então associada ao Império Moscovita, cujos povos congregados falavam e escreviam em quase duzentas línguas diversas. E, ante as farpas da crítica e sob os latejos da ingratidão, atormentado, incompreendido pela maioria dos contemporâneos, ferido por muitos e apedrejado em seus sentimentos mais caros, recompõe o Esperanto para os povos terrestres, encetando nova estrada para a unificação mundial”.
As virtudes do Esperanto para a divulgação do Espiritismo no mundo, para a congregação dos povos além de suas fronteiras políticas, econômicas e culturais, para a criação de uma cultura internacional sem precendentes na história, para a divulgação dos ideais de paz, respeito e tolerância, independente das barreiras linguísticas, políticas, religiosas e econômicas justificam, por assim dizer, que o Espiritismo o tenha abraçado como uma de suas causas mais caras, em torno da qual há mais de um século os espíritas trabalham. Também as mensagens psicografadas, que revelam a pertinência do Esperanto no contexto das transformações sociais da Terra, que, a partir da Idade Moderna, a vêm preparando para a consolidação da Boa-Nova, atestam a permanência do Esperanto como ideal do futuro, em torno do qual a humanidade se reunirá, livre dos preconceitos sectaristas e das imposições que derivaram sempre do orgulho e do egoísmo, da concepção de que a individualidade precede a coletividade, de que o interesse próprio está acima do bem da humanidade. Há mais de um século, os Esperantistas têm provado o contrário, tendo uma língua e cultura comuns, que não pertence a ninguém e é de todos. O ideal da estrela verde, que na origem significou também “esperança”, continua guiando a humanidade para um estágio mais avançado de compreensão. Significa, também, que a paz e a confraternização serão as bases da edificação do Evangelho no mundo. O Esperanto é uma utopia? Os espíritos vêm testemunhar a seu favor, e tal como o Cristianismo, vêm provar que não.

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