quarta-feira, 11 de abril de 2012

Espiritismo e ciberespaço




Aproveitando a proximidade do Bate Papo Espírita de 2012, postamos um texto produzido ao longo do processo de preparação de estudos do Bate Papo Espírita do ano de 2011, Espiritismo e Ciberespaço
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Ciberespaço, sociedade e espiritismo
A necessidade de estarmos em lida direta com outros iguais a nós é conhecida desde muito tempo, e sistematizada por pensadores modernos das áreas da educação, filosofia, entre outras. O próprio livro dos espíritos ressalta a necessidade absoluta da vida em sociedade, e na conhecida questão referente ao conhecimento de si mesmo, respondida por Santo Agostinho, ele coloca como pergunta essencial a ser feita para si mesmo: “se ninguém tivera motivo para de mim se queixar”. A forma como o eu é visto pelo outro é, de fato, essencial para a construção da nossa personalidade.
O ser humano está diante do outro em relação direta desde sempre. Primeiramente entre os agrupamentos primitivos de seres humanos, em pequenos grupos de nômades; em seguida, na esfera das cidades, depois do assentamento da humanidade decorrente da descoberta da agricultura e da criação de animais; começa a consolidar-se uma esfera doméstica, em que as relações entre familiares tornam-se mais estreitas; diferentes grupos sociais interagem sob regimes absolutistas, teocráticos, tribalistas e democráticos.
Com o descobrimento de alternativas tecnológicas para melhoria do trabalho e da produção, o mundo vai vivendo um aceleramente cada vez maior em todas as suas instâncias; o desvanecimento da grandeza do espaço que cortava continentes por meio das novas formas de transporte e comunicações torna todo o mundo, paulatinamente, um grande villarejo global. Em consonância com esse encurtamento das distâncias, surge um novo contexto em que as relações sociais entre os homens se torna possível: a internet.
As relações entre os jovens nos sites de relacionamentos, twitter e programas de conversa estão carregadas de um páthos intenso, como é próprio de sua idade. No geral, arrolam-se especialmente declarações emotivas a respeito das amizades, sobre a importância de uns na vida de outros, e de ações praticadas regularmente e/ou sendo praticadas no momento pelos internautas. Assim, os jovens fazem-se cada vez mais presentes na vida um do outro, seja por sentir-se importante em receber e dedicar textos à amizade entre amigos, seja ao conhecer os detalhes da vida cotidiana dos outros por meio de mensagens.
Cumpre-nos questionar a respeito da natureza dessas relações. Não se deve negar que, pelo jogo da simulação, pela construção de um perfil mais próximo do que quero ser do que da realidade, pelo uso de apelidos, pela inscrição em fóruns e comunidades de assuntos específicos, pela possibilidade de esconder as expressões faciais, e ações simultâneas e alguns pensamentos por uma conversa do messenger, o jovem tem uma nova gama de possibilidades para a construção da sua subjetividade e identidade, baseada na forma como o outro o vê, na forma como vê o outro e na forma como deseja ser visto.
Entretanto, cumpre-nos também questionar-nos se esse tipo de interação não deixa de lado pontos importantes da relação face a face, do toque, do olhar, da troca de energias salutares e, muitas vezes, da exposição sincera e assertiva. Mesmo que muitas das vezes os jovens acabam por fortalecer laços de amizade e se tornarem mais próximos por meio de relações sociais suplementares advindas de tais meios, não se deve abdicar da conversa franca. A exaltação das virtudes na frente dos amigos se revela mais difícil do que em meio virtual, deflagrando uma certa característica de “proteção de face” da criação de textos emotivos via internet.
Ficam diversas questões relativas ao tema, mas permanece sempre a questão básica a que nos norteia o conhecimento do Espiritismo: a busca do equilíbrio. Desviando dos exageros de quem se entrega por horas à vida virtual, preferível, para alguns, à vida diante do outro, o apelo ao mundo ciberssocial deve ser encarado como vinculado à nossa existência como um todo, e o que for apreendido em termos de fantasia e simulação deve ser, mais cedo ou mais tarde, cotejado à vida.
A cultura contemporânea valorizante das aparências, a velocidade e a simultaneidade com que as coisas acontecem, a hibridez e liquidez dos produtos culturais de nosso tempo podem nos levar a uma vida quase contemplativa, de quem não conversa com os amigos da sala mas tem centenas de companheiros no Orkut, de quem busca na fluidez da fama os heróis dos seus valores ou a catárse das suas frustrações, de quem prefere os prazeres e as conquistas fluidas às verdadeiras amizades e caminhos. Lembremos, então, da exortação do Cristo: “Onde estiver seu tesouro, aí estará seu coração”.

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