quarta-feira, 18 de julho de 2012

Santo Agostinho e o Espiritismo, parte 1: Agostinho segundo o Espiritismo

Por Fábio Fortes

Criaste-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós.
(Agostinho, Confissões, I, 1)


No movimento espírita contemporâneo, o nome de Santo Agostinho é quase sempre associado à questão 919 do Livro dos Espíritos, em que Agostinho, como participante da Falange da Verdade, nos esclarece sobre a necessidade do autoconhecimento para resistirmos aos apelos do mal. Na sequência da mesma questão, é o próprio Agostinho quem nos indica uma maneira prática de se atingir o conhecimento de si mesmo, através do exame diário e metódico dos pensamentos e ações, e a consequente mudança de hábitos nos dias seguintes.

Não por acaso, a questão, que talvez seja uma das mais lembradas pelos espíritas, encerra, sob o nome do preclaro filósofo da doutrina cristã, duas das ideias mais caras à Doutrina Espírita: o autoconhecimento e a transformação. Por outro lado, enquanto a voz de Agostinho seja sempre relembrada nos estudos doutrinários pelas suas proverbiais clareza e profundidade de análise da questão oferecida por Kardec, poucos, entretanto, conhecem um pouco mais do pensamento e da vida de Agostinho e dos ensinamentos legados à humanidade durante sua exemplar e missionária passagem pela Terra.

O Agostinho da Revelação Espírita, é, como diz Erasto, em o Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 1, it. 11, o “espírito que vê com olhos que não via enquanto homem”, é o colaborador espiritual que revisita a Terra em nova missão, aliado a tantos outros companheiros espirituais encarregados de fazer florescer no mundo a Lei da Verdade, codificada por Allan Kardec. Agostinho, como, de resto, também Emmanuel, João Evangelista, Erasto, São Vicente de Paulo, entre outros, apresentam a Doutrina dos Espíritos como a consequência maior de uma série de comunicações ostensivas entre o mundo visível e o invisível. Em conjunto, proclamam: “chegaram os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus, e os agentes de sua vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a Regeneração da Humanidade” (O Livro dos Espíritos, prolegômenos).

O colaborador que se soma à falange de espíritos do bem, imbuído da nobre missão de esclarecer o Evangelho pelas novas luzes do Consolador Prometido, não é outro, senão o mesmo Agostinho que, séculos antes, exemplificara com sua vida e obra, a necessidade de transformação por intermédio do autoconhecimento. Isso quer dizer que o outrora Bispo de Hipona já deixara em sua vida uma exemplificação para o que, na Era do Espírito, ele vem nos relembrar: a transformação moral e o autoconhecimento. Ademais, como também Erasto nos esclarece, este Agostinho que assina, entre outros, a obra espírita, não veio destruir o que edificou com o testemunho de sua vida no longínquo século IV, quando o mundo civilizado e pagão, em ruína, se abria para a construção cristã. Afirma Erasto: “Liberta, sua alma entrevê claridades novas, compreende o que antes não compreendia. Novas ideias lhe revelaram o sentido verdadeiro de algumas sentenças. (...) Sem renegar a sua fé, pode constituir-se disseminador do Espiritismo, porque vê cumprir-se o que fora predito.”

Por encontrar no Agostinho de Hipona a predição dos saberes que tanto admiramos no Agostinho da Doutrina Espírita, é que gostaríamos de destacar, nas próximas edições, alguns aspectos do pensamento agostiniano que perduram à ação do tempo e às mudanças sociais; aspectos, em suma, que, inalterados com a sucessão dos dias, continuam a ser expressões da revelação divina, no seu caráter de universalidade e atemporalidade, por reconhecermos que, na vida terrena de Agostinho, possamos encontrar, como ele já nos indica, uma maneira prática de nos libertarmos de nossas dificuldades presentes: Fazei o que eu fazia, quando vivia na Terra...

Um comentário:

  1. excelentes reflexões!
    espero ansioso os demais textos da série
    interessante aproveitar os exemplos da obra, e principalmente das vivências d Agostinho para nossas próprias experiências evolutivas

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